10/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 25 - Saúde, SUS e Ciência na Mídia |
11479 - O PROGRAMA MAIS MÉDICOS E A VEICULAÇÃO MIDIÁTICA NO PERÍODO ELEITORAL: IDEIAS, IMAGENS E CRENÇAS NA PRODUÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS RENATA FLORES TREPTE - UFRGS, LISIANE BOER POSSA - UFRGS, ALCINDO ANTÔNIO FERLA - UFRGS, HÊIDER AURÉLIO PINTO - UFRGS
Apresentação/Introdução Este trabalho é resultado de pesquisa que mapeia e analisa as intervenções sobre o Programa Mais Médicos (PMM), dos candidatos a cargos eletivos dos poderes executivo e legislativo, federal e estaduais, vizibilizadas nos principais veículos da mídia impressa e on-line durante o processo eleitoral de 2014.
A criação do PMM ocorreu em um contexto de grandes tensionamentos, com questionamentos relevantes acerca do papel do poder público na regulação do trabalho e da formação profissional. Sua implantação centrava-se na expansão da atenção básica, no contexto da nova Política Nacional de Atenção Básica, que enfrentava como obstáculo para essa expansão justamente o provimento e a fixação de profissionais, principalmente médicos, em áreas remotas e de maior vulnerabilidade. Entendendo que as transformação nas políticas públicas têm como determinantes as ideias, imagens e crenças que orientam os atores e que o contexto político em que são formuladas e implementadas também influencia na sua construção, os processos eleitorais e seus resultados são considerados relevantes para a configuração das políticas públicas, já que a mudança constitui possibilidade de reformulações nas ações do estado.
Objetivos O estudo visou identificar os interesses, as ideias, imagens e crenças em convergência e em disputa sobre o PMM. Mapear o posicionamento dos candidatos sobre esta política tem dois objetivos: a) explicitar os parâmetros nos quais os candidatos apresentam os problemas e soluções acerca da provisão e formação em saúde, sinalizando desta forma a direcionalidade para esta política pública; b) identificar as principais ideias que foram difundidas, as respectivas imagens e crenças apresentadas e as consequências na formação de significados e identidades compartilhadas sobre o programa em questão.
Metodologia Para este estudo foram identificadas e analisadas as reportagens que trataram sobre o PMM em 137 veículos noticiosos impressos e on-line da mídia do Brasil, no período julho de 2014 a outubro de 2014. Para a organização e tratamento dos dados foi utilizada a ferramenta NVivo. A análise de conteúdo destacou os temas e posicionamentos com maior relevância expressos pelos candidatos e que foram difundidos nas mensagens midiáticas, evidenciando a sua expressividade conforme os dados quantitativos de frequência. Essas análises têm como contribuição revelar grandes tendências dos temas. As intervenções dos candidatos foram selecionadas da base de dados e primeiramente classificadas considerando o posicionamento expresso. A partir desta seleção extraiu-se os dados gerais do corpus que foi analisada no seu conteúdo indutivamente. A análise qualitativa dos conteúdos da fala dos candidatos foi realizada para que fosse possível identificar as ideias, imagens e crenças expressas pelos candidatos.
Discussão e Resultados Os candidatos a cargos eletivos foram os atores que mais tiveram vocalizadas opiniões sobre o PMM nos veículos analisados. A maioria das intervenções expressas afirmava compromisso de manutenção da política, ainda que alguns candidatos apresentassem críticas, e um pequeno percentual apresentou posicionamento contrário. Entre as críticas, são mais frequentes as voltadas aos cubanos, baseadas em três argumentos centrais: a formação dos médicos; as relações diplomáticas Brasil-Cuba e a remuneração. Reproduzindo um imaginário que aponta uma suposta desqualificação dos médicos oriundos de país comunista e que se submetem a remunerações baixas e a exploração do estado cubano, com o que os críticos denominam de subserviência do Brasil. Os candidatos desfavoráveis divergem da ideia de que problema é a falta de médicos, colocando em questão a solução engendrada na política. Os candidatos favoráveis e os críticos convergem na reafirmação da insuficiência de médicos no sistema, apontando para as propostas de soluções e para a imagem expressa na identidade do programa: Mais Médicos para o Brasil. Ideias reforçadas com dados que mostram ampliação do acesso ao sistema de saúde associado ao PMM.
Conclusões/Considerações Finais O tema da implementação do PMM, no eixo do provimento emergencial foi incorporado e assumido como uma agenda dos atores estratégicos implicados no sistema político e, portanto, na disputa por significados e identidades dos atores sociais durante o período eleitoral. O mesmo não ocorreu de forma significativa com as proposições acerca da qualificação da infraestrutura da atenção básica e das mudanças na formação. Candidatos francamente favoráveis ao PMM e os que apresentavam críticas expressaram publicamente uma imagem de que o programa constituía-se como uma necessidade com a qual estariam comprometidos, sendo raras as intervenções que posicionavam-se contra ou que questionavam sua necessidade. Esse posicionamento pode ser compreendido a partir da necessidade dos atores estratégicos hábeis de lerem e disputarem as preferências das pessoas e do ambiente, constituindo-se como representantes das expectativas, dos significados e das identidades compartilhados entre os atores sociais.
|