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Grupos Temáticos
12/10/2016 - 13:30 - 15:00 GT 35 - Práticas de Cuidado e Operadores de Desinstitucionalização e de Recovery em Saúde Mental e entre Usuários de Drogas |
11484 - “NADA SOBRE NÓS, SEM NÓS”: EXPERIÊNCIAS EM RECOVERY NA SAÚDE MENTAL DO BRASIL ATUAL ANGELA PEREIRA FIGUEIREDO - UERJ
Apresentação/Introdução O presente trabalho se propõe ao avanço dos impasses e desafios instaurados pelo processo da reforma psiquiátrica no Brasil, vislumbrando novas práticas de cuidado no âmbito da desinstitucionalização na nossa realidade de saúde mental, particularmente aquelas específicas às formas de protagonismo e de empoderamento dos usuários, usuárias e familiares, relacionadas ao tema do recovery.
O conceito de recovery vem assumindo lugar central na abordagem do empoderamento e da reabilitação psicossocial das pessoas com transtorno mental. Dentro dos processos estabelecidos, são fundamentais os que dizem respeito aos direitos por uma vida digna e pessoalmente significativa dentro da comunidade em que residem, a despeito de suas condições psiquiátricas. É enfatizada a autodeterminação, além da busca por princípios fundamentais, tais como educação, emprego, sexualidade, amizade, espiritualidade e ativismo, para além dos limites do transtorno e dos serviços vinculados ao sistema de saúde mental. Os princípios são condizentes aos valores e objetivos de vida de cada um, guiando um processo único, no qual são ausentes as noções de cura e de completa remissão de sintomas.
Objetivos Tem-se como objetivo geral a descrição e a análise das experiências associadas ao tema do recovery no contexto brasileiro de saúde mental por meio da revisão da literatura já publicada no país e de estudos empíricos de caso ilustrativos, no período entre 2005 e 2016.
A pesquisa tem como principal objeto de estudo os grupos de ajuda e suporte mútuos realizados no município do Rio de Janeiro-RJ, em especial os desenvolvidos na rede de saúde mental do município do Rio de Janeiro, sob a supervisão do Projeto Transversões, vinculado à Escola de Serviço Social da UFRJ.
Metodologia O método da pesquisa participante foi eleito a partir do que se considera pela teoria do recovery e do que o conceito preconiza e pressupõe em termos da relação da pesquisadora com os sujeitos participantes da pesquisa. O protagonismo do usuário, sendo um dos pontos centrais do conceito de recovery, deve estar como primordial no modo pelo qual é realizada a pesquisa. O método deve, portanto, considerar principalmente o lugar ativo do usuário, sujeito participante da pesquisa, como protagonista de sua vida, seja na lida cotidiana com o transtorno mental, seja nos grupos de ajuda e suporte mútuos que serão observados.
Como estratégias metodológicas, utiliza-se da observação participante no acompanhamento do projeto de grupos de ajuda e suporte mútuos no Rio de janeiro, além de entrevistas semi-estruturadas com alguns atores envolvidos e da revisão bibliográfica das fontes principais na literatura internacional e da literatura brasileira sobre recovery.
Discussão e Resultados Com relação ao conceito de recovery, por meio da revisão da literatura produzida, constatou-se que vêm sendo desenvolvidas no Brasil importantes iniciativas que se utilizam das premissas do conceito em questão. São exemplos os trabalhos que levam em consideração a visão dos usuários acerca de seus próprios processos de recovery, ou de outras questões em saúde mental, inclusive aquelas relacionadas ao funcionamento das redes de saúde e de atenção psicossocial; a participação dos usuários na própria produção de pesquisa; o projeto de gestão autônoma da medicação e os projetos de economia solidária.
Os grupos de ajuda e suporte mútuos, por sua vez, são importantes estratégias de empoderamento, na criação de espaços geridos pelos usuários e familiares, nos quais são realizadas trocas de vivências, de ajuda emocional e de conversa sobre as estratégias de lidar com os problemas comuns, particularmente associados ao transtorno. A partir deles, também são vislumbradas atividades na comunidade. Presume-se, desse modo, que são importantes iniciativas pautadas principalmente pelo protagonismo de usuários, usuárias e familiares dos serviços de saúde mental e para as experiências em recovery.
Conclusões/Considerações Finais Considera-se que o conceito de recovery é fundamental aos usuários na medida em que é base para seus processos de busca de esperança, superação do estigma e de outros tipos de trauma associados aos transtornos mentais. Além disso, adquire importância para o desenvolvimento de políticas que subsidiem a transformação da rede de serviços de saúde mental, adotando formas de cuidado mais sensíveis às variáveis relacionadas ao recovery e, principalmente, mais significativas aos usuários, os sujeitos diretamente atingidos.
Espera-se poder contribuir para os avanços no contexto de saúde mental por meio do aprofundamento no que é preconizado pelo recovery, na problematização de seus princípios e delineamentos na realidade das experiências brasileiras de protagonismo e empoderamento de usuários e familiares. Através dessas, procura-se dar visibilidade a formas mais autônomas dos sujeitos com transtorno mental e de seus familiares na condução de suas vidas.
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