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Grupos Temáticos

10/10/2016 - 15:00 - 16:30
GT 41 - Tecnologias Contraceptivas e Reprodutivas: Inovação e/ou Controle dos Corpos?

11300 - ABSORÇÃO E METABOLIZAÇÃO DOS HORMÔNIOS SEXUAIS E SUA TRANSFORMAÇÃO EM TECNOLOGIAS CONTRACEPTIVAS NO PENSAMENTO MÉDICO BRASILEIRO
CLAUDIA BONAN JANNOTTI - FIOCRUZ - INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA, ANDREZA RODRIGUES NAKANO - FIOCRUZ - INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA, LUIZ ANTÔNIO DA SILVA TEIXEIRA - FIOCRUZ - INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA


Apresentação/Introdução
Entre 1920 e 1930, os hormônios sexuais foram identificados, sintetizados e comercializados como drogas para tratamentos de condições diversas (desordens menstruais, infertilidade, menopausa, impotência). As propriedades de inibição da ovulação dos hormônios sexuais já eram conhecidas, mas sua transformação em produtos contraceptivos se deu nos anos de 1950. Em 1960, nos Estados Unidos, o FDA autorizou a comercialização primeira pílula anticoncepcional. O processo de recepção e difusão das pílulas anticoncepcionais no Brasil foi rápido. Em 1962, algumas marcas já eram vendidas nas farmácias e milhares de mulheres já consumiam o produto. Em meados dos anos 1970, esses produtos já estavam estabilizados.
A rapidez da transformação dos hormônios sexuais em tecnologias contraceptivas e a fluidez de sua incorporação às práticas de diversos grupos (prescritores, vendedores, consumidoras) caminharam pari e passu com outros processos de transformação social. Neste trabalho, são explorados os papéis desempenhados pelos ginecologistas, enquanto expertos do corpo feminino, na transformação dos hormônios sexuais em contraceptivos e os processos de conversão de si mesmos em prescritores.




Objetivos
O estudo analisa os processos de assimilação de conhecimentos e desenvolvimento de práticas clínicas e de pesquisa concernentes aos hormônios sexuais, entre ginecologistas brasileiros. Especificamente, discute o percurso do pensamento médico da recepção dos hormônios sexuais à sua transformação em produtos contraceptivos, com o objetivo de compreender estilos de introdução, difusão, utilização e translações de tecnologias médicas na esfera da saúde sexual e reprodutiva no Brasil.


Metodologia
O método utilizado apoia-se na perspectiva dos estudos sociais das ciências e tecnologias, e dos estudos de caráter histórico. Elege-se como fonte matérias publicadas entre 1936 e 1970 na principal revista brasileira de ginecologia no período, os Anais Brasileiros de Ginecologia (ABG). Os ABG são fruto do processo de renovação da ginecologia brasileira, ocorrido em meados dos anos 1930, e, no período, era organizado de modo a privilegiar trabalhos originais produzidos no país e discussão de novidades do campo da ginecologia publicadas no exterior. A análise dessa publicação nos permite a compreensão da perspectiva dos cientistas brasileiros no que tange aos hormônios sexuais, suas indicações e usos; e permite também conhecer a dinâmica das pesquisas nesse campo de conhecimento.


Discussão e Resultados
Artigos publicados nos ABG mostram que o grande interesse dos médicos pelos hormônios se relacionou aos esforços de construção de uma nova ginecologia, moderna e de caráter científico. Tanto estudos científicos sobre hormônios como propagandas desses produtos tiveram grande centralidade nos Anais. A autorização para a comercialização de hormônios como contraceptivos, traria novas questões e demandaria novos posicionamentos dos ginecologistas.
Os ginecologistas buscavam ter algum controle na indicação de preparados hormonais; como detentores do conhecimento cientifico especifico, seriam os profissionais habilitados para diagnosticar e tratar problemas femininos relacionados aos hormônios. Era preciso assumir (e reivindicar) o lugar de expertos no assunto dos novos medicamentos, tanto para as questões técnicas quanto para aquelas de ordem social, moral e ética. Em 1966, é lançado um Número especial dos Anais, sobre gestágenos, trazendo vozes dos mais variados lugares do mundo. O alistamento de expertos dos mais longínquos foros acadêmicos parecia indicar que os gestágenos chegaram para ficar. Era necessário um posicionamento local e o alinhamento global.




Conclusões/Considerações Finais
O acompanhamento das novidades científicas sobre hormônios sexuais e seu uso para tratamento de diversas mazelas femininas, desde os anos 1920, foi de grande importância para a rápida aceitação médica da contracepção hormonal. Questões científicas e técnicas (efeitos colaterais, dosagens) e a questão populacional compuseram a maior parte dos debates. Objeções da Igreja católica foram consideradas, mas não pautaram o pensamento médico sobre os contraceptivos.
A busca de consolidar a ginecologia como especialidade científica, moderna e cosmopolita, razões sanitárias e demográficas que possibilitavam enquadrar dos contraceptivos como drogas éticas, a abertura para um papel da medicina em prover o bem-estar das pessoas, medicalizando estilo de vida, são processos subjacente à assimilação de metabolização dos hormônios sexuais como contraceptivos hormonais.


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