10/10/2016 - 15:00 - 16:30 GT 41 - Tecnologias Contraceptivas e Reprodutivas: Inovação e/ou Controle dos Corpos? |
11422 - QUEM VAI TOMAR A PÍLULA MASCULINA? UMA REFLEXÃO SOBRE A CONSTRUÇÃO DOS USUÁRIOS DE CONTRACEPTIVOS MASCULINOS EM DESENVOLVIMENTO GEORGIA MARTINS CARVALHO PEREIRA - IMS- UERJ, ROGERIO LOPES AZIZE - IMS, UERJ
Apresentação/Introdução Diversos meios de comunicação vêm anunciando o lançamento de contraceptivos masculinos reversíveis equivalentes à pílula anticoncepcional feminina. Ainda que tais produtos não estejam disponíveis no mercado, há uma evidente materialização dessas “pílulas masculinas” em discursos que se multiplicam na mídia, nas ONGs e outras instituições que pesquisam novas tecnologias contraceptivas e, inclusive, em um imaginário público. Parte-se do pressuposto de que analisar esses discursos pode ser “bom para pensar” a configuração das masculinidades e dos direitos reprodutivos em nossa sociedade.
Relatos de tentativas de criação de contraceptivos voltados para os homens remetem à década de 60, retornam ciclicamente e é possível identificar um recente aumento na exposição midiática que anuncia um lançamento para os próximos anos. Ao ir de encontro à perspectiva naturalizada da contracepção como uma função e responsabilidade feminina, essa tecnologia deparou-se, e depara-se, com diversos constrangimentos sociais e culturais. Nesse sentido, uma das principais tarefas do desenvolvimento desse produto é a configuração dos seus usuários - a construção do homem como um ator engajado na contracepção.
Objetivos A partir da perspectiva da co-construção entre tecnologias e usuários, bem como da noção de que essa construção envolve diversos atores, não se restringindo ao campo científico, analisamos os discursos de duas organizações não governamentais envolvidas no desenvolvimento e fomento de contraceptivos voltados para homens, a Parsemus Foundation e a Male Contraception Initiative. Visamos compreender como essas ONG realizam o trabalho de construção dos usuários de um contraceptivo masculino.
Metodologia Para acessar os discursos desses atores utilizou-se como técnica de coleta de dados a análise de documento. Os sites e páginas no Facebook das ONG estudadas foram as fontes pesquisadas e os textos e imagens foram analisados a partir da metodologia da análise do discurso que busca apreender a associação entre a comunicação oral, textual ou imagética e a sua dimensão social, política, histórica e cultural (LUPTON, 1992). Os discursos são encarados desde uma perspectiva foucaultiana como indissociáveis das relações de poder e das práticas e instituições; eles não são encarados apenas como representantes ou espelhos que refletem a organização social, mas como produtores dessa realidade (LUPTON, 2014).
Discussão e Resultados O engajamento masculino na contracepção é um tema controverso. Em geral, as diversas vertentes do feminismo, bem como instituições engajadas no planejamento reprodutivo, dividem-se entre dois posicionamentos: a defesa da participação dos homens para dividir os riscos e responsabilidades da contracepção com as mulheres; e a denúncia da participação masculina como uma ameaça à autonomia feminina sobre o próprio corpo em um contexto de desigualdade entre os gêneros. Nos primeiros projetos de desenvolvimento de uma pílula masculina, os homens possíveis usuários foram construídos como parceiros das mulheres, seus aliados e não em termos de controle sobre a sua própria fertilidade. Atualmente, o discurso das ONG analisadas indica que a construção de demanda para uma “pílula masculina” parece circular não mais em termos de colaboração com a parceira ou como busca por controle da fecundidade por “chefes de família”, mas principalmente em termos de indivíduos que buscam controle para si, independentemente do seu estado civil e de haver uma parceira fixa.
Conclusões/Considerações Finais A percepção da transformação na caracterização dos homens usuários de uma pílula masculina nos leva a refletir sobre as seguintes questões: essa construção dos homens possíveis usuários de uma pílula masculina como homens buscando controle sobre a própria fecundidade pode ser encarada como um indício da construção da legitimação dos homens como sujeitos dos direitos reprodutivos? Relaciona- se à construção do homem como tendo direitos iguais aos das mulheres em relação à contracepção? Atualmente a controvérsia em relação a igualdade versus diferença estaria pendendo para a defesa da igualdade no caso da contracepção?
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