10/10/2016 - 15:00 - 16:30 GT 41 - Tecnologias Contraceptivas e Reprodutivas: Inovação e/ou Controle dos Corpos? |
11486 - A GAZETA DA PHARMÁCIA: UMA ANÁLISE DOS DISCURSOS ACERCA DOS MÉTODOS ANTICONCEPCIONAIS NOS ANOS DE 1960 A 1981 TÂNIA MARIA DIAS - INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA/FIOCRUZ, CLAUDIA BONAN - INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA/FIOCRUZ, ANDREZA NAKANO - INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA/FIOCRUZ, LUIZ ANTÔNIO TEIXEIRA - INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA/FIOCRUZ
Apresentação/Introdução Desenvolvidas nos Estados Unidos, nos anos de 1950, as pílulas anticoncepcionais chegaram ao Brasil no início dos anos de 1960. Esses produtos se difundiram rapidamente, por meio de dois circuitos principais: comercialização nas farmácias e distribuição gratuita por entidades privadas de planejamento familiar. O circuito das farmácias foi pré-condição para e produto da rápida difusão dos novos contraceptivos e os profissionais nele envolvidos foram atores importantes para a constituição do mercado e a ampliação do uso da pílula. Com interesse em explorar a participação desses atores nas redes de interação que confluíram para a estabilização da pílula anticoncepcional no país, analisamos matérias de um periódico publicado pelo órgão oficial dos sindicatos dos proprietários de farmácia e laboratórios, A Gazeta da Pharmacia. A Gazeta foi criada com o intuito de servir de meio de comunicação entre os profissionais do mundo farmacêutico e publicada entre 1930 e 1981. Esse periódico é uma fonte relevante acessarmos os discursos que circulavam nesse meio sobre as pílulas anticoncepcionais.
Objetivos Analisar os conteúdos das matérias e propagandas sobre os métodos contraceptivos hormonais veiculadas em A Gazeta da Pharmacia e compreender o papel desenvolvido por profissionais de farmácia (farmacêuticos, proprietários e empregados) na divulgação, difusão e ampliação do mercado consumidor de pílulas anticoncepcionais.
Metodologia Trata-se de uma pesquisa qualitativa que utiliza métodos dos estudos sociais das ciências e tecnologias, especialmente conceitos e técnicas de análise do desenvolvimento de redes sociotécnicas que reúnem especialistas, usuários e as tecnologias médicas. A Gazeta da Pharmacia foi selecionada por ter seu foco nos profissionais de farmácia, atores menos visibilizados dessas redes. As matérias selecionadas foram publicadas entre os anos de 1960 e 1981, captadas na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, por meio de utilização das palavras-chaves: anticoncepção, anticoncepcional(is) e anovulatório(s). O material foi tratado com a técnica de análise de discurso, com qual buscou-se compreender melhor a construção através do dito e do não dito de novas ideias, práticas e normas.
Discussão e Resultados Desde o início houve interesse na novidade científica: as pílulas anticoncepcionais. Circularam diferentes formulações discursivas para apresenta-las: (1) produto “moderno” que inauguraria uma “nova era”, (2) necessidade do controle médico (prescrição e seguimento), (3) método eficaz e seguro, (4) tecnologia em evolução, (5) necessidade de um produto eficaz e acessível para conter as altas de natalidade no país e (6) consolidação do campo de atuação dos profissionais da farmácia (necessidade de conhecimento sobre o produto por parte dos profissionais de farmácia).
A maioria dos discursos reforçavam aspectos positivos da pílula (modernidade, eficácia, segurança e benefícios do uso em várias instâncias – solução para problemas sociodemográficos e usos terapêuticos) e procuravam recrutar aliados em prol da liberação dos anticoncepcionais no Brasil, tanto diretamente, ou seja, os profissionais da farmácia, como indiretamente, os clientes desses estabelecimentos. Também proliferavam propagandas incentivadoras à comercialização e uso das pílulas e notícias sobre o aperfeiçoamento e desenvolvimento de novas fórmulas.
Conclusões/Considerações Finais O circuito das farmácias foi importante para a consolidação do mercado e a ampliação do uso da pílula entre as mulheres brasileiras. Os discursos tiveram um papel didático importante: informavam sobre a fisiologia da reprodução, o funcionamento e os efeitos das pílulas, e, indiretamente, ensinavam os profissionais da farmácia a prescrevê-las, consolidando campo de atuação desses profissionais. Além disso, incentivaram o processo de autorização e regulamentação do novo produto. O material também permitiu vislumbrar como a tecnologia foi transformando os discursos normativos sobre fecundidade, sexualidade e população, reenquadrando, legitimando e normalizando a sexualidade feminina sob a contracepção hormonal. E, como houve uma implicação de gênero e de classe na normatização dessas práticas, onde o controle de fecundidade passa a ser responsabilidade da mulher pobre, que tem a responsabilidade social de promover o controle de fecundidade para não se ter mais filhos que se possa criar.
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