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11/10/2016 - 13:30 - 15:00
GT 1 - Dilemas e Desafios de Pesquisas Etnográficas

10788 - DEVOLUÇÃO DOS DADOS AOS SERVIÇOS DE ATENDIMENTO DE USUÁRIOS DE DROGAS NO RIO GRANDE DO SUL A PARTIR DE UMA PESQUISA ANTROPOLÓGICA
PRISCILA FARFAN BARROSO - UFRGS, DANILA RIVA KNAUTH - UFRGS


Apresentação/Introdução
O trabalho apresenta o processo de devolução dos dados de pesquisa aos profissionais de saúde de dois serviços de atendimento de usuários de drogas na rede pública de saúde mental no Rio Grande do Sul. Levou-se em consideração a perspectiva dos profissionais nesses serviços em relação aos modelos de atendimento ênfase hospitalar ou psicossocial dispensado pela instituição àqueles que usam drogas. Num contexto de luta antimanicomial, a reforma psiquiátrica priorizou o atendimento ambulatorial em detrimento dos atendimentos hospitalar, entretanto, com o pânico moral instalado através de uma suposta epidemia do crack, as possibilidades de internação compulsória e o tratamento em comunidades terapêuticas se evidenciaram como possibilidade de resolução para as demandas sociais. Esse processo de transição na política pública é complexo e envolve os profissionais da rede, que estão entremeados aos protocolos e aos cuidados dispensados na prática. Após a pesquisa de dissertação, no âmbito do PPPGAS/UFRGS, coube devolver os dados aos interlocutores, analisando esse encontro etnográfico através das potencialidades de trocas e discussões sobre cuidados dos usuários de drogas.


Objetivos
O objetivo de estudar como se deu essa troca através da devolução dos dados de pesquisa etnográfica, reflete as experiências e dilemas da interação de concepções entre áreas de conhecimento distintas nas quais estão os profissionais da área da saúde e os pesquisadores da antropologia. Com gestores e profissionais que atuam nos serviços de saúde, essa interlocução pode contribuir com o diálogo entre áreas, e até mesmo através da reflexão sobre os dispositivos de cuidado oferecido pelos serviços de mental voltado aos usuários de drogas.


Metodologia
O "momento" de apresentação dos dados após a etnografia realizada em serviços de saúde também pode ser objeto de análise do pesquisador. Conforme a Resolução 196/ 96, do Conselho Nacional de Saúde, que discorre sobre diretrizes e normas para a pesquisa envolvendo seres humanos, esse retorno é uma exigência normativa, mas também de compromisso estabelecido com aqueles que aceitaram participar da pesquisa. Assim, refletir antropologicamente sobre o pós-campo nesse retorno faz parte da pesquisa, bem como o campo a que se propôs.


Discussão e Resultados
Depois de dois anos de realização da pesquisa, a devolução apenas da dissertação não é bastante para saber o impacto da pesquisa entre os profissionais pesquisados. Logo, através de reuniões marcadas e estabelecidas para apresentar e discutir sobre os dados gerados, pode-se compreender o meandro dessa troca de expectativas. A insistência do pesquisador é parte desse processo, sendo que em muitas pesquisas se desdenha esse momento por inúmeros motivos: falta de tempo de ambos lados, pouco interesse dos envolvidos, burocracia do processo etc. Considerar a possibilidade de encontro etnográfico através da devolução dos dados é, por si, um dado. Essa abertura de diálogo solidifica a aproximação entre Ciências Humanas e Ciências de Saúde. Ainda que a pesquisa social tenha um caráter subjetivo, e reforce o que os profissionais de saúde já percebem no cotidiano de trabalho, o retorno do resultado do estudo é não apenas um compromisso ético, mas um posicionamento político para com os pesquisados.


Conclusões/Considerações Finais
Considerar as questões éticas e políticas do "momento" de devolução de dados evidencia, cada vez mais, um imbricamento possível entre áreas diferentes que tem como temas de estudo o mesmo objeto. O que pode contribuir com a prática da gestão do serviço, o reposicionamento dos dispositivos das políticas públicas e as percepções dos atores envolvidos sobre os significados sociais em relação aos modelos de atenção e estratégias institucionais para lidas com os usuários de drogas na rede saúde mental. Assim, os desafios dessa troca deve permitir a reflexão sobre as potencialidades da etnografia vinculada à produção teórica das Ciências Humanas e Ciências em Saúde, podendo pensar conjuntamente sobre as demandas da sociedade.


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