|
Grupos Temáticos
11/10/2016 - 15:00 - 16:30 GT 1 - Novos Objetos Etnográficos |
12115 - DA UNIDADE AO TERRITÓRIO: SAÚDE, VIOLÊNCIA E COTIDIANO NA FAVELA NATÁLIA FAZZIONI - UFRJ
Apresentação/Introdução O relato de pesquisa apresentado busca refletir sobre as inúmeras situações de violência encontradas em um trabalho etnográfico realizado em uma Unidade Básica de Saúde no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. A investigação considera o cenário de ampliação dos serviços de saúde oferecidos no Complexo do Alemão nos últimos anos, a partir da instalação de quatro novas Clínicas da Família, uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e um CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). Tal ampliação ocorreu paralelamente ao chamado processo de “pacificação”, que resultou não apenas na instalação de cinco Unidades de Polícia Pacificadora nas comunidades que compõem o Complexo, como também na implementação de uma série de novos equipamentos públicos, políticas públicas, projetos sociais e, sobretudo, em uma nova dinâmica política e social no território. Este novo arranjo traz novas situações de violência ao cotidiano, ao mesmo tempo em que mantém outras já conhecidas.
Objetivos O objetivo geral do trabalho é compreender, a partir da observação na unidade e no território, as interfaces entre violência e saúde no Complexo do Alemão. Já os objetivos específicos podem ser resumidos nos seguintes pontos: 1) refletir sobre alguns dados preliminares do trabalho etnográfico realizado até o presente momento, 2) pensar nos desafios da pesquisa etnográfica em saúde no contexto violento e 3) apontar caminhos e conceitos para tratar desta temática.
Metodologia A metodologia está dividida em duas frentes. A primeira consiste no trabalho etnográfico realizado inicialmente em uma Unidade Básica de Saúde, a ser expandido para uma segunda unidade, através do qual acompanho os profissionais em visitas domiciliares, realização de grupos dentro da unidade e nas consultas médicas. Já na segunda frente, tenho realizado uma série de entrevistas com moradores, gestores e profissionais visando resgatar a história dos serviços de saúde no Complexo do Alemão.
Discussão e Resultados A ideia de uma sociabilidade violenta (Machado da Silva, 2004) que permeia as relações sociais existentes em territórios favelados, como o Complexo do Alemão, revelou-se como um fator determinante no dia-a-dia e nas narrativas dos profissionais e usuários desta unidade. Atentar-se a tal aspecto não significa, neste caso, pretender contribuir com o debate sobre epidemiologia da violência, senão “mapear” os diferentes sentidos e ocorrências de falas e ações ligadas à violência no cotidiano dos profissionais e usuários. Nesse sentido, procuro demonstrar nos relatos etnográficos como o tema da violência aparece inscrito nos corpos e falas dos usuários e profissionais, como é abordado nos atendimentos e atividades realizadas e em que momentos e de que maneira as situações de violência afetam a rotina da unidade. Finalmente, tenho buscado compreender ainda de que forma a “gestão da violência” no trabalho em saúde é realizada pelos órgãos públicos responsáveis por estes serviços através, por exemplo, de “protocolos de segurança” e criação de “grupos de escuta” para abordar o assunto.
Conclusões/Considerações Finais Até o presento momento, um conjunto de situações observadas permitem revelar que a temática da violência é intrínseca à rotina da unidade, presente desde as conversas de corredor, passando pelos diagnósticos, pelas piadas e comentários aleatórios, pelas trajetórias pessoais, pelas manifestações de sofrimento, relações de trabalho e, até mesmo, pela rotina dos procedimentos médicos, possíveis ou não de serem realizados naquelas situações. Desse modo, mais importante do que compreender em quais momentos a violência do território aparece neste cotidiano, tem se buscado analisar como ela organiza a dinâmica da própria unidade e de seus usuários e profissionais; quais lógicas impõe, quais possibilidades interdita e, sobretudo, como é negociada.
|
|
|
|