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Grupos Temáticos
10/10/2016 - 15:00 - 16:30 GT 13 - Pessoa com Deficiência: Práticas de Inclusão |
11447 - FRAGILIDADES E POTÊNCIAS DO CUIDADO ÀS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS ADQUIRIDAS NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO: UMA EXPERIÊNCIA EM CENÁRIOS DE PRÁTICA STELLA MARIS NICOLAU - UNIVERIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO, ANGELA APARECIDA CAPOZZOLO - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO, VIVIANE SANTALUCIA MAXIMINO - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
Período de Realização da experiência Acompanhamento domiciliar semanal por estudantes de Sr. Duarte na atenção básica, entre 2010 a 2016.
Objeto da experiência A Universidade Federal de São Paulo, Baixada Santista, promove formação interprofissional em saúde e, no terceiro ano de diversos cursos, congrega estudantes para desenvolver, junto a serviços de saúde, intervenções com o objetivo de produzir cuidado em saúde. Sr. Duarte foi acompanhado no domicílio durante seis anos até seu falecimento recente, por estudantes, docentes e profissionais. Teve suas duas pernas amputadas e deficiência visual em decorrência de complicações do Diabetes Mellitus e residia no quarto andar de um prédio sem elevador. Isolamento domiciliar, adesão ao tratamento, redes familiares frágeis, necessidade de próteses e de cuidador foram temas que emergiram nesse processo.
Objetivo(s) Refletir sobre os inúmeros fatores que envolvem a assistência em saúde em uma situação de deficiência adquirida em decorrência de doença crônica e envelhecimento, questão atual e de importância para a saúde coletiva. Identificar as redes formais e informais e suas possibilidades de oferecer sustentação a pessoas em situação de isolamento social. Indicar as possibilidades de aprendizado e criação de novas estratégias de atuação em situações nas quais os procedimentos padrão da atenção básica tais como dietas, atividade física e controle glicêmico não surtem efeitos.
Metodologia Duplas de estudantes do terceiro ano dos cursos de terapia ocupacional, fisioterapia, educação física, nutrição e psicologia visitaram Sr. Duarte semanalmente durante cada semestre letivo por seis anos. Após as visitas, os estudantes participavam de supervisão com docentes e colegas. Abordavam o caso a partir de escuta atenta, leitura de prontuário e conversa com a equipe de saúde da família. Juntamente com esta avaliação processual, os estudantes elaboravam propostas de intervenção semestrais a partir das necessidades detectadas. As propostas implementadas eram avaliadas e reformuladas a cada encontro a partir da resposta do usuário e família, da pesquisa bibliográfica e das discussões nas supervisões.
Resultados O encontro com a equipe de saúde responsável pelo caso indicou que a mesma vivia um esgotamento de seu repertório de ações e descrença na possibilidade de mudança das condições do usuário e sua família, vendo-o como um usuário rebelde de família pouco colaborativa. A representação do caso como crônico e sem possibilidades de reabilitação ou melhora clínica parece ter criado uma restrição da capacidade imaginativa da equipe. Esta restrição impedia a mesma de pensar encaminhamentos diferentes tais como a colocação de uma segunda prótese, a mudança de medicação, um trabalho com a vizinhança para suprir as dificuldades da família nos cuidados com Sr. Duarte, a mudança de casa para um andar térreo para facilitar os deslocamentos, etc. Os estudantes inovaram a cada semestre ampliando a noção de tratamento e incluindo procedimentos tais como ouvir música, auxiliar nos cuidados de higiene, inserir a esposa cuidadora em um grupo de mulheres para que esta pudesse se fortalecer, entre outros.
Análise Crítica As docentes responsáveis, talvez devido à sua posição de exterioridade em relação ao caso, investiram em apoiá-lo na busca da segunda prótese que, no entanto, dependia da atuação com serviços especializados para sua efetivação, pois. Sr. Duarte manifestava, o desejo de romper com o isolamento doméstico. Ele criou com os estudantes uma rede afetiva e de apoio que supria algumas de suas necessidades de informação e convívio social, recebendo uma escuta interessada de suas narrativas. Na dimensão pedagógica constatou-se a ampliação do conhecimento sobre deficiência, envelhecimento, doenças crônicas, redes formais e informais de suporte, políticas públicas de saúde, assistência, transporte e habitação. O convívio com Sr. Duarte e família demonstrou a necessidade de ampliação do conceito de saúde/doença/cuidado, a importância das redes formais e informais e os limites do sistema de saúde na atenção às deficiências.
Conclusões e/ou Recomendações Ilustra-se a precariedade assistencial das pessoas pobres e com redes frágeis, quando adquirem deficiências que restringem suas atividades e participação social. Olhar a deficiência como resultante da interação entre corpos e ambientes, como possibilidade da diversidade humana e do processo de envelhecimento populacional pode levar à construção de políticas de moradia e transporte acessíveis, provisão de equipamentos de ajuda para mobilidade, e uma melhor compreensão dos profissionais da atenção básica acerca do modelo social da deficiência, temas que devem ser abordados desde a graduação.
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