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Grupos Temáticos
12/10/2016 - 15:00 - 16:30 GT 17 - Cronicidade, Experiência de Enfermidade e Itinerários Terapêuticos |
11972 - O DUPLO ESTIGMA NO ITINERÁRIO TERAPÊUTICO DE PESSOA COM ESPOROTRICOSE DENISE CAMPOS VERGINIO - UFRJ, JULIENE NEVES ALVES - UFRJ, NEIDE EMY KUROKAWA E SILVA - UFRJ
Período de Realização da experiência Atividades discentes desenvolvidas entre 13/10/2015 a 02/02/2016, com carga horária de 60 horas.
Objeto da experiência Relato a partir de experiência em disciplina teórico-prática denominada Atividades Integradas em Saúde Coletiva IV, do curso de graduação em Saúde Coletiva do IESC-UFRJ. Nesta disciplina foi proposta a construção do itinerário terapêutico de uma pessoa, a partir de um agravo de saúde. Escolhemos a esporotricose, que é uma doença de transmissão zoonótica, isto é, ligada a acidentes envolvendo felinos, como arranhaduras e mordeduras, que se manifesta na forma de lesões (ulcerações) na pele que começam com um pequeno caroço vermelho, que pode virar uma ferida, geralmente nos braços, nas pernas ou no rosto. O Rio de Janeiro é considerado o estado com maior número de casos no mundo.
Objetivo(s) Descrever e compreender o Itinerário Terapêutico percorrido por uma pessoa com diagnóstico de Esporotricose, em busca de cuidado.
Metodologia Após as aulas teóricas sobre itinerário terapêutico e linha do cuidado integral em saúde, foi feita pesquisa específica sobre o agravo escolhido e formulado roteiro de entrevista visando construir o itinerário de uma mulher de 35 anos de idade, casada, sem filhos, moradora da baixada fluminense, com diagnóstico de esporotricose há 4 meses. Ela foi escolhida por conveniência, visando atender à atividade da disciplina e sem a pretensão inicial de ser objeto formal de pesquisa, mas que buscou atender aos requisitos éticos para tal, inclusive o consentimento informado. A entrevista foi feita em uma sessão, na residência da informante, com duração de 2 horas, cujo teor for gravado e transcrito.
Resultados A informante procurou por um médico do convênio de saúde, após arranhadura por um felino, que resultou em ferida que não cicatrizava, sendo diagnosticada com esporotricose. Este médico a aconselhou a seguir o tratamento no serviço público, sob a alegação de que este estaria melhor capacitado para o cuidado desta doença. A usuária obteve êxito em acessar os serviços de saúde, tanto do convênio, quanto nos outros 2 serviços públicos. Ressaltamos aqui que ela foi buscar atendimento em outro município porque duvidava da qualidade dos serviços de saúde próximos de sua residência. Esse Itinerário Terapêutico foi pareado com outro, o de Transtorno Bipolar, ambos gerando importantes processos de estigmatização. A entrevistada, que foi fisioterapeuta, começou uma bem sucedida profissão de cake design por ocasião do diagnóstico, e precisou abandonar por conta das lesões, cuja estética causava constrangimentos junto aos clientes. Mesmo fazendo uso da medicação, ela credita sua melhora a Deus.
Análise Crítica Notamos que a Esporotricose é uma doença pouco conhecida, quase invisível, não havendo informações adequadas sobre a mesma, bem como inexistem políticas públicas específicas para o controle dessa doença de crescente incidência. Os pacientes desconhecem a gravidade dessa doença até o início dos sintomas e para os médicos a Esporotricose não é uma doença de grave relevância, tendo em vista que não se trata de um agravo incapacitante ou letal, porém a análise do itinerário terapêutico mostrou os prejuízos da doença na vida da informante. Não obstante este panorama, no caso da entrevistada, um dos maiores obstáculos advindos da doença refere-se ao processo de estigmatização e das limitações impostas em função das lesões aparentes, que a fizeram abandonar a profissão.
Conclusões e/ou Recomendações A partir do conceito de Itinerário Terapêutico, pudemos compreender o percurso da informante na busca de cuidados com a saúde, bem como o modo de utilização dos serviços de saúde. Apreendemos a importância de se considerar os valores e significados em torno da doença e, no caso, das consequências deletérias do processo de estigmatização gerados pela visibilização das feridas. A possibilidade de exercitar todo o processo de reconhecimento do itinerário terapêutico foi bastante frutífero na compreensão do processo saúde-doença.
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