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Grupos Temáticos
11/10/2016 - 15:00 - 16:30 GT 28 - Saúde Mental e Trabalho |
10865 - OS SIGNIFICADOS DO SOFRIMENTO NO TRABALHO: UM ESTUDO ETNOGRÁFICO NO ÂMBITO DE UMA UNIVERSIDADE FEDERAL JANAINA BARONI FRANCISCO - UNIFESP, EUNICE NAKAMURA - UNIFESP
Apresentação/Introdução O mundo corporativo tem sido marcado por competitividade e concorrência acirrada. No segmento educacional mudanças também são visíveis, tanto nas escolas e universidades públicas quanto nas privadas. Tais mudanças no trabalho podem acarretar sofrimento às pessoas. Entende-se aqui o sofrimento como uma questão subjetiva, não como doença, mas um estado ligado aos valores das pessoas. De um ponto de vista antropológico, a gama dos ‘sofrimentos’ nomeáveis pela experiência humana é muito mais ampla que a sucessão de ideias pelas quais algumas culturas – e, em particular, a ocidental – os entendem como ‘doença’. (DUARTE et al, 1998). Sofrimento é muito mais abrangente, pois inclui dimensões psíquicas, psicológicas, sociais e até espirituais. Se por um lado, o trabalho “dignifica o homem”, por outro, as constantes pressões que impõe podem causar problemas emocionais que afetarão a vida social, familiar e laboral dos trabalhadores.
Objetivos O objetivo geral desta pesquisa é compreender os significados do sofrimento no trabalho, segundo a visão de trabalhadores - servidores administrativos, gestores e docentes, de uma Universidade Federal, subdivididos em duas categorias: presenteístas e absenteístas.
Metodologia De acordo com Minayo (2014), a sociologia de Schultz usa a noção de senso comum para falar das representações sociais e esse mesmo senso comum é construído por meio da interpretação dos fatos do dia-a-dia. Esse dia-a-dia é entendido como um tecido de significados, constituído pelas ações humanas. O foco da pesquisa é a percepção de como os sujeitos interpretam o sofrimento no trabalho. O método etnográfico busca a compreensão a respeito dos homens, a partir de suas experiências particulares (NAKAMURA, 2009). A pesquisa de campo acontece no âmbito de uma universidade federal, através de entrevistas semi-estruturadas com diferentes grupos de trabalhadores e de uma aproximação com o campo. Essa aproximação permite uma maior contextualização do tema em relação aos registros obtidos pelo relato dos sujeitos da pesquisa. Complementarmente à pesquisa de campo, realizamos uma pesquisa bibliográfica para contextualizar o leitor a respeito do tema e obter conteúdo para dar suporte à discussão.
Discussão e Resultados As organizações vêm passando por mudanças e cada vez mais profissionais são expostos a fortes emoções e são solicitados a apresentar uma postura multifuncional. Absenteísmo significa a falta do empregado ao trabalho (CHIAVENATO, 1994) e presenteísmo significa estar fisicamente presente no ambiente de trabalho, porém, mental e emocionalmente ausente, sem conseguir produzir como deveria, por razões de doenças ou problemas pessoais e familiares (BERRO, 2007). Ao entrevistar servidores, gestores e docentes das duas categorias percebemos a presença do sofrimento em situações do dia-a-dia de trabalho. Alguns sofrem por problemas de relacionamento no trabalho, outros por questões que envolvem o volume de trabalho e a cobrança por resultados que, muitas vezes, inibem a progressão na carreira. O medo do afastamento é presente tanto nos absenteístas quanto nos presenteístas. De acordo com Duarte (1998) a vivência do afastamento do trabalho determina sofrimento subjetivo, pois implica sentimentos de impotência, vergonha e isolamento. É perceptível o quanto as exigências no âmbito do trabalho provocam o mergulho na rotina exagerada e exaustiva, deixando no corpo as marcas do sofrimento.
Conclusões/Considerações Finais Com a precarização do ambiente de trabalho o sofrimento está cada vez mais presente no mundo laboral. Desemprego ampliado, precarização exacerbada, rebaixamento salarial acentuado, perda crescente de direitos, esse é o desenho mais frequente da nossa classe trabalhadora (ANTUNES, 2009). Muitas organizações exigem dos profissionais uma dedicação além da capacidade laborativa de cada um. Sua competência acaba sendo medida pelo tempo que fica à disposição do trabalho e não pela capacidade técnica e pelas experiências conquistadas ao longo do tempo. O defeito crônico de uma vida mental sem saída mantido pela organização do trabalho tem, provavelmente, um efeito que favorece as descompensações psiconeuróticas (DEJOURS, 1994). O trabalho como elemento fundante do indivíduo não pode ser alicerçado com base no sofrimento e na precarização, pois o resultado dessa combinação pode acarretar muito mais prejuízos do que melhorias à classe trabalhadora.
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