10/10/2016 - 15:00 - 16:30 GT 35 - Práticas de Cuidado, Promoção da Saúde e Formação em Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas |
11133 - DOS PORCOS ÀS PÉROLAS: UMA ANÁLISE PRELIMINAR ACERCA DOS MODOS DO FAZER COTIDIANO DE PESSOAS EM USO PROBLEMÁTICO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS. CALIANDRA MACHADO PINHEIRO - UFBA, CLARICE MOREIRA PORTUGAL - UFBA, MÔNICA DE OLIVEIRA NUNES - UFBA
Apresentação/Introdução Os estudos relacionados ao uso problemático de álcool e outras drogas têm mais e mais sido influenciados pelas abordagens narrativas e de caráter socioantropológico, o que abriu uma nova onda de debates e discussões em torno do retorno à fala desses sujeitos, com fins a se aproximar de sua experiência e de suas formas de elaboração do cotidiano e da existência como um todo – sobretudo se levarmos em consideração as novas possibilidades terapêuticas pautadas na reabilitação psicossocial e na territorialidade. Tomando isso como base e reconhecendo a necessidade de ampliação desse debate (MCRAE, 2006), acreditamos que a elucidação dos operadores em jogo na elaboração cotidiana mostra-se de grande valia para o aprofundamento dessa linha de investigação.
Objetivos Este trabalho visa a discutir as diferentes modalidades de agência elaboradas por sujeitos em situação de uso problemático de álcool e outras drogas. Nesse sentido, propomos ainda elucidar as “maneiras de fazer” (DE CERTEAU, 2014) por eles perpetradas na elaboração de seu cotidiano, dando ênfase às elaborações táticas.
Metodologia Esta pesquisa faz parte do projeto “Integralidade do cuidado e reinserção social como operadores de desinstitucionalização para pessoas em sofrimento psíquico e/ou uso abusivo de álcool e outras drogas” desenvolvido pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Saúde Mental (NISAM) do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Tal pesquisa fundou-se em uma abordagem de cunho etnográfico baseada na observação participante e na realização de entrevistas semiestruturadas, com fins à (re)construção das trajetórias e histórias de vida dos participantes. Neste trabalho daremos ênfase a dois casos específicos, cujos dados serão analisados à luz da hermenêutica crítica e reflexiva.
Discussão e Resultados A partir dos dados produzidos, pudemos perceber que o uso de substância no contexto familiar vem emergir não só como uma tentativa de escapar à estigmatização nele reificada, mas principalmente como um dispositivo (DELEUZE, 1990) que vem permitir a afirmação de um lugar de singularidade e elaboração de alteridade. Além disso, salientamos que outras formas de empoderamento, tais como as vias da arte e da religião (com destaque para as afro-brasileiras), mostram-se como espaços de negociação e circulação no sentido de enriquecerem a elaboração de seus territórios existenciais. Por fim, trazemos como mais um elemento da análise a constatação de que a precariedade dos vínculos sociais, afetivos e econômicos reiteram a posição marginalizada e vulnerável desses sujeitos, contra as quais essas pessoas engrenam movimentos (re)ativos mais ou menos bem sucedidos, mas sempre individualizados e permeados pela exigência da produtividade e do sucesso característicos da modernidade tardia.
Conclusões/Considerações Finais Diante do exposto, pudemos perceber que o uso problemático de substâncias psicoativas funciona a partir de um duplo eixo: por um lado, permite a esses sujeitos construírem lugares e modos de existir contra-hegemônicos, por outro, essa mesma abertura de possibilidades elimina outras vias de ação e atuação. Nesse sentido, outras maneiras de elaborar relações de alteridade e pertencimento, tal qual a arte e a religião, emergem como elementos que dialogam e se hibridizam com o uso de substâncias. Por fim, faz-se mister maiores investigações acerca das formas de agência que não necessariamente geram cotidianos (e mesmo os impossibilitam), principalmente se considerarmos o não-lugar (AUGÉ, 2005) imposto ao usuário de drogas no contexto brasileiro.
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