10/10/2016 - 15:00 - 16:30 GT 39 - Cuidado Materno-Infantil, Parentalidade, Saúde da Criança |
11616 - HOMOPARENTALIDADE FEMININA: ESPECIFICIDADES DA ASSISTÊNCIA AO PERÍODO GRAVÍDICO-PUERPERAL PAULA GALDINO CARDIN DE CARVALHO - FSPUSP, ALINE ALVES DA SILVA TRAVAGLIA - USP, RAQUEL DE JESUS SIQUEIRA - FSPUSP, CARMEN SIMONE GRILO DINIZ - FSPUSP, CRISTIANE DA SILVA CABRAL - FSPUSP
Apresentação/Introdução As mudanças sociopolíticas e culturais ocorridas nas últimas décadas, sobretudo nos países ocidentais, têm-se refletido numa maior abertura e aceitação de diferentes configurações familiares, que vão além do modelo tradicional da família nuclear heterossexual. Uma dessas configurações que tem cada vez mais destaque social diz respeito à família homoparental, seja formada por homens ou mulheres. No caso feminino, o surgimento de diversas técnicas de fertilização possibilita a muitas mulheres homossexuais o acesso à parentalidade, com ou sem a participação direta de uma figura masculina. A combinação desses fatores aumentou consideravelmente o número de casais de mulheres que de forma planejada decidiram ser mães. Diversos estudos internacionais demonstram que casais homoafetivos de mulheres permanecem marginalizados pela sua identidade não heterossexual e podem experimentar formas de homofobia com os serviços de saúde e prestadores de serviços, afetando os resultados dos cuidados de saúde às mulheres homossexuais e seus bebês. Diante disso, a intenção deste trabalho é problematizar a homoparentalidade feminina e a assistência prestada a estes casais no período gravídico-puerperal.
Objetivos Compreender a percepção de casais homoafetivos de mulheres com relação à assistência recebida durante o período gravídico-puerperal.
Metodologia Trata-se de estudo qualititativo com casais homoafetivos de mulheres para compreender questões relativas à homoparentalidade. Por meio de uma rede de contatos (Internet, rede sociais, indicação, entre outros) buscou-se casais de mulheres que já possuiam filhos biólogicos e foram atendidas durante o período gravídico-puerperal no sistema público ou suplementar de saúde. A concepção pode ter sido realizada por meio de tecnologias reprodutivas como a Reprodução Assistida (inseminação artificial, Fertilização in vitro, etc.), por auto-inseminação caseira ou por meio de relação sexual ocasional. Foram realizadas entrevistas individuais em profundidade seguindo um roteiro preliminar com blocos temáticos, no período de 2015 a 2016. As entrevistas foram transcritas integralmente e foi realizada a análise temática do material selecionado. O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública/USP.
Discussão e Resultados Até o momento foram entrevistados cinco casais de mulheres. O pequeno universo empírico já traz a pluralidade de possibilidades de formas de concepção: o método mais utilizado foi a fertilização in vitro, seguido por inseminação caseira e relação sexual ocasional. A assistência ao período gravídico-puerperal foi realizada no serviço suplementar de saúde. Os partos foram vaginais, três hospitalares (um gemelar), e dois domiciliares. Apesar da descrição de “bom atendimento” pelos profissionais em geral, as informantes obervaram a presença de formulários constando apenas nomenclatura heteronormativa de pai/mãe, esposo/esposa, descaso de determinado profissional com a vontade da mãe não-biológica de amamentar e perguntas indiscretas sobre a intimidade do casal. Três casais possuiam progenitor conhecido, dois com o intuito de criar laços parentais. Em um dos casos, o homem participou de todo processo de concepção, gravidez e parto. No parto, o médico relutou em permitir que a parceira fosse a acompanhante, ao invés do “pai”: ele teve o direito a uma pulseirinha para ter acesso ao berçário, e ao primeiro banho do bebê, enquanto a “mãe não-biológica” não teve o mesmo acesso.
Conclusões/Considerações Finais Os resultados obtidos confirmam situações já levantadas em trabalhos internacionais com relação à assistência prestada a casais de mulheres na gravidez, parto e pós-parto, onde o atendimento pode incluir suposição de heterossexualidade e questionamentos inadequados. Existem evidências de que os cuidados são melhorados quando os profissionais são sensíveis e conhecedores das necessidades exclusivas de usuárias homossexuais. A escassez de estudos em âmbito nacional que tratam dessa temática aponta para a importância de se abordar o tema de forma interdisciplinar, incluindo a Saúde Pública. Sua relevância político-social encontra-se na possibilidade de dar visibilidade a estes sujeitos e as suas demandas de parentalidade e resultar em uma maior equidade com relação ao atendimento pré-natal, do parto e pós-parto prestado a casais homoafetivos.
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