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Grupos Temáticos
11/10/2016 - 15:00 - 16:30 GT 39 - Migração e Saúde 02 |
10962 - PERFIL DEMOGRÁFICO E DE SAÚDE DE IMIGRANTES HAITIANOS EM MATO GROSSO, BRASIL: UM ITINERÁRIO PARA INVESTIGAÇÃO DA INTEGRALIDADE NO CUIDADO CULTURAL DIVERSO FABIANO TONACO BORGES - UFF, ANA PAULA MURARO - UFMT, CARLOS EDUARDO SIQUEIRA - UMASS BOSTON
Apresentação/Introdução A cidade de Cuiabá, capital do estado amazônico do Mato Grosso, foi um dos destinos de imigrantes haitianos, principalmente entre os anos 2012 e 2014. Não está claro ainda se a referida cidade era um destino no projeto migratório dos nacionais haitianos, ou se tratou-se de uma migração de trânsito. Não obstante, as políticas sociais universalistas, como o Sistema Único de Saúde (SUS), devem garantir-lhes direitos humanos elementares tal como acesso à saúde integral e de qualidade. Para tanto, o conhecimento da auto-avaliação do estado de saúde da população imigrante haitiana e de suas opiniões e preferências relativamente ao modelo de prestação de cuidados de saúde torna-se essencial para a definição de políticas públicas de saúde que procurem respostas à satisfação das suas necessidades. Constitui-se, também, importante objetivo o conhecimento das informações sociais, econômicas e demográficas dos imigrantes para articular ações de aproximação social, de preferencia horizontalizadas e integrais, de sorte a construir o cuidado transcultural para os imigrantes nos diferentes níveis dos serviços de saúde do SUS.
Objetivos Nosso objetivo foi coletar informações de caráter sócio-demográfico que subsidiassem uma investigação quali-quantitativa sobre a inserção social de imigrantes haitianos no estado de Mato Grosso. Por conseguinte, apresentamos o resultado da etapa quantitativa que teve como propósito analisar dados tais como renda, nível educacional, compreensão da língua portuguesa, estilo de vida, auto-avaliação da saúde e acesso e utilização dos serviços de saúde.
Metodologia Realizamos nesta etapa um estudo quantitativo, transversal, com uma amostra probabilística, proporcional por sexo, de haitianos residentes em Cuiabá. Utilizamos um instrumento estruturado para entrevistas que ocorreram entre dezembro de 2014 e fevereiro de 2015, por realizadas por entrevistadores bilíngues (Crioulo/Português). Nós buscamos informações sociodemográficas, de estilo de vida e da auto-percepção de saúde. Os dados passaram por dupla digitação e validação por meio dos Softwares Epi Info 7 e o software SPSS (versão 20) foi utilizado para a análise dos dados. Foi utilizado o teste do Qui-quadrado para testar as diferenças entre os grupos, adotando-se a significância ao nível de 5%. Esta investigação inclui também uma etapa subsequente associada uma abordagem qualitativa em curso, em que mobilizamos o recurso do Itinerário Terapêutico e a história de vida como métodos de pesquisa.
Discussão e Resultados Entrevistamos 452 haitianos (373 homens e 79 mulheres), dos quais metade tinha menos de 35 anos de idade, majoritariamente casados ou em união estável. Metade dos entrevistados residiam em Cuiabá há mais de um ano; o outra, há menos de um. As mulheres possuíam menor nível de escolaridade. Mais de 60% disseram que dominavam pouco ou muito pouco do português. Sobre hábitos de vida, apenas uma minoria relatou dormir menos de seis horas por noite (22,6%). Acerca do uso de tabaco e álcool, apenas 9,6% dos entrevistados afirmaram serem tabagistas, e 16,9% relataram consumir bebida alcoólica pelo menos uma vez por semana. 27,0% avaliaram sua saúde como excelente ou muito boa; 23,2% como boa; 33,8% como regular e 15,9% como ruim. Aproximadamente 48% dos entrevistados afirmaram que o seu de estado de saúde mudou; entre esses, 6,5% afirmaram que mudou para muito pior, 40,1% para pior, 26,3% para razoável, 25,8% para melhor e apenas 1,4% para muito melhor. No que concerne ao acesso à serviços de saúde, 80.8% dos entrevistados dependem exclusivamente do SUS.
Conclusões/Considerações Finais Nós nos deparamos com achados importantes para a formulação de políticas sociais no Brasil no que concerne à populações imigrantes, que por um lado evidenciam o perfil jovem e masculino da imigração haitiana, vinculada ao trabalho e, e quiçá aos processos produtivos loco-regionais como o agronegócio. Por outro, percebemos os efeitos da imigração na saúde dos sujeitos que relatam majoritariamente uma piora da percepção do estado de saúde após a migração. Permeiam nesses achados informações relevantes sobe hábitos de vida relevantes para a articulação de ações de saúde a uma população eminentemente dependente do acesso garantido constitucionalmente pelo SUS. Acreditamos ser importante aprofundar o conhecimento sobre os efeitos da inserção laboral dos imigrantes nas cadeias produtivas (ex. agronegócio e construção civil) como fatores de atração de migrantes estrangeiros e, bem como, no campo da saúde, analisar a integralidade e diversidade no cuidado à saúde de imigrantes.
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