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Grupos Temáticos

11/10/2016 - 15:00 - 16:30
GT 39 - Migração e Saúde 02

12027 - SITUAÇÃO DE (IN)SEGURANÇA ALIMENTAR ENTRE IMIGRANTES HAITIANOS RESIDENTES EM CUIABÁ, MATO GROSSO
KÁTIA REGINA NUNES MOTIZUKI - UFMT, ANA PAULA MURARO - UFMT, MARIA ANGELA CONCEIÇÃO MARTINS - UFMT, SILVIA ÂNGELA GUGELMIN - UFMT


Apresentação/Introdução
A Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) apresenta um conceito amplo, que envolve questões de acesso a alimentos de qualidade, práticas alimentares saudáveis, práticas sustentáveis de produção, cidadania e direitos humanos. No Brasil é direito de todos o acesso regular e permanente a alimentos de qualidade em quantidade suficiente, sendo, portanto, a SAN uma questão de saúde e cidadania. Porém, ainda persistem situações de desigualdades sociais, nas quais os imigrantes podem estar incluídos. No caso específico dos haitianos, a partir de 2011, o Brasil se inseriu no quadro de destinos dessa população, que vivia há décadas uma instabilidade econômica, política e social em seu país. Cuiabá tornou-se uma das capitais brasileiras a receber um número elevado de imigrantes haitianos, por oferecer oportunidades de empregos, uma vez, que foi escolhida como uma das capitais a sediar os jogos da Copa do Mundo em 2014. Diante desse elevado fluxo migratório e da persistente desigualdade social de Cuiabá, torna-se necessário avaliar a SAN dessa população.


Objetivos
Tendo em vista a inexistência de um critério universal para avaliação de Segurança Alimentar e Nutricional, buscou-se analisar a situação de insegurança alimentar dos haitianos residentes em Cuiabá, com base nas questões da Escala Brasileira de Segurança Alimentar (EBIA).


Metodologia
Foi realizado um inquérito com uma amostragem probabilística proporcional por sexo, de haitianos maiores de 18 anos de idade que residiam em Cuiabá e Várzea Grande-Mato Grosso. Os haitianos foram avaliados por entrevistadores bilíngues (crioulo haitiano/português) entre dezembro de 2014 e janeiro de 2015 (452 entrevistados). Para a análise das questões do EBIA, foram excluídos da análise 48 haitianos que estavam residindo no Centro de Pastoral para Migrantes de Cuiabá. Tendo em vista que o EBIA não é validado para os haitianos, avaliou-se separadamente as nove primeiras questões da escala, segundo sexo e a existência de dívida relativa ao projeto migratório. A análise de dados foi realizada por meio do software SPSS (versão 20), adotando-se o teste do Qui-quadrado para testar as diferenças entre os grupos. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital Universitário Júlio Muller, da Universidade Federal de Mato Grosso (CAAE Nº 29120414.0.0000.5541).


Discussão e Resultados
Foram entrevistados 452 haitianos e neste trabalho foram analisados 404, sendo 81,9% do sexo masculino, 60,9% com idade entre 18 e 36 anos, 67,3 % casados ou em união estável, 42,3% estavam desempregados e 55,4% residiam há mais de um ano no Brasil. Todas as questões do EBIA são referentes aos últimos 3 meses e constatou-se que a pergunta da EBIA que teve maior proporção de resposta positiva foi a primeira da escala “Teve a preocupação que a comida na sua casa acabasse antes que tivesse condições de comprar mais comida?” (64,4%), seguida pela questão “A comida acabou antes que tivesse dinheiro para comprar mais comida?” (62,6%). Foi observado maiores proporções de respostas positivas entre o sexo feminino e entre aqueles que referiram possuir dívida financeira relacionados aos custos para a migração para o Brasil, a exemplo da questão “Sentiu fome mas não comeu porque não podia comprar comida suficiente?” em que 64,4% das mulheres e 68,8% dos que possuíam dívida financeira, respondeu positivamente (p-valor =0,04 e p-valor<0,01, respectivamente).


Conclusões/Considerações Finais
A elevada proporção de respostas positivas para as questões da EBIA entre os haitianos parece indicar uma situação de insegurança alimentar, especialmente entre as mulheres haitianas e aqueles que contraíram dívidas para chegar até o Brasil. É importante salientar o possível estado de vulneração dessa população, ou seja, uma condição existencial específica de adversidade independente de sua vontade, na qual não possuem meios necessários para enfrentá-la (Schramm e Kottow, 2001). Esta situação produz a necessidade de ações e políticas públicas que protejam e garantam o direito à alimentação adequada para os imigrantes, de modo que retomem sua autonomia no que se refere ao acesso a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente.
Referências:
Schramm FR, Kottow M. Principios bioéticos en salud pública: limitaciones y propuestas. Cad Saúde Pública 2001; 17:949-56. (884 com caracteres)


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