12/10/2016 - 15:00 - 16:30 GT 41 - Gênero e Desafios para o Campo da Saúde |
10884 - DOENÇAS CARDÍACAS E DIFERENÇAS DE GÊNERO: ALGUNS CASOS DE TRANSPLANTADAS CARDÍACAS DA ESPANHA LORE FORTES - UFRN, ANTONIA NUBIA OLIVEIRA ALVES DE SOUZA - UFRN
Apresentação/Introdução Há muitos anos os infartos e a maioria das doenças cardíacas tem sido identificados como doenças masculinas. Pesquisas recentes têm demonstrado que sintomas de homens e mulheres são diferenciados e representam um movimento internacional de um grupo de pesquisadoras do campo da saúde, preocupado em denunciar essas discriminações. Nesse sentido, vamos mostrar que essas diferenças de gênero nos sintomas de doenças cardíacas, tais como o infarto, que não estavam (e ainda não estão) sendo considerados dentro de uma perspectiva de gênero. Este trabalho pretende trazer uma pequena parte dos resultados da minha pesquisa de Pós-Doutorado, financiada pela Capes, realizada na Espanha (2012-2014), em que comparamos as representações sociais de transplantad@s cardíac@s, em todo o processo de transplante. Algumas jovens mulheres transplantadas declararam ter sido discriminadas nos hospitais, quando descreviam seus sintomas de infarto. Médic@s e enfermeir@s as interpretaram como pacientes histéricas, em desequilíbrio psicológico. Esses depoimentos representam somente alguns casos e não podem levar a generalizações, podem indicar novas pesquisas e confirmam as pesquisas internacionais.
Objetivos Para este trabalho pretendemos trazer para discussão sobre as diferenças de gênero em doenças cardíacas crônicas que levam ao infarto. Baseada em uma pesquisa realizada na Espanha, analisando as representações sociais de transplantados e transplantadas de coração, temos como objetivo específico verificar as diferenças de gênero no tratamento realizado nos hospitais, trazendo neste artigo a análise do depoimento de três transplantadas cardíacas espanholas.
Metodologia Metodologicamente este trabalho apresenta inicialmente pesquisa bibliográfica sobre estudos de gênero junto ao campo da saúde e especificamente em estudos relacionados a doenças cardíacas. Numa segunda parte pretendemos abordar resultados da pesquisa que comparou representações sociais de 30 homens e 20 mulheres transplantad@s de coração na Espanha. Trata-se de uma análise qualitativa sobre a representação social dos transplantados cardíacos observando todo o processo de transplante. Foram aplicadas entrevistas com questões fechadas e abertas junto aos transplantad@s cardíac@s depois de seu retorno a casa. Os pacientes informaram sobre seus sentimentos e contaram sobre suas vidas e sobre o tratamento, desde sua chegada no hospital até o transplante. Para este estudo trazemos somente uma pequena parte da pesquisa.
Discussão e Resultados As diferenças que incluíram a questão gênero no campo da saúde têm sido objeto de diversas investigações nos EUA e Europa, com o objetivo de procurar denunciar preconceitos e indicando a necessidade de se considerar as diferenças de modo a propiciar um tratamento diferenciado para homens e mulheres. Essas pesquisas mostram que tem ocorrido um descaso e discriminação com relação a mulheres, na medida em que se impõem os sintomas masculinos. Outro fator que deve ser considerado nesta análise são os fatores culturais, que tem influenciado o comportamento das mulheres ocidentais. Mesmo que se leve em conta que muitas mulheres não têm buscado atendimento em casos graves e nesse sentido, são apontadas como culpadas por obterem um tratamento tardio, que muitas vezes é considerado tarde demais para sua recuperação. Outro fator a ser considerado é o de que mulheres geralmente suportam mais a dor, o que as leva a continuarem na tarefa de cuidar de seus filhos e de toda a família, o que causa um retardamento na busca de atendimento no caso de infartos.
Conclusões/Considerações Finais Concluindo, se de uma forma geral devemos não somente considerar a questão de diferenças de gênero no tratamento de mulheres no campo da saúde, nos hospitais, vimos que na análise específica dos três casos de mulheres espanholas que trazemos para discussão neste estudo, que declararam em seus depoimentos terem sentido um tratamento diferenciado nos hospitais quando de sua primeira crise cardíaca. Essas mulheres ao buscar os hospitais estavam em estado grave e o tratamento dispensado não considerou essa gravidade. Se devemos considerar a questão cultural ao analisar as pacientes, também devemos levar em conta os profissionais (enfermeiras, médicas, etc) que muitas vezes são mulheres e não consideram a questão de diferenças de gênero. Em nenhum desses casos analisados pudemos encontrar na questão cultural uma explicação por terem se descuidado de sua saúde para cuidar de suas famílias, mesmo porque se tratavam de casos gravíssimos que levaram a transplantes cardíacos.
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