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Grupos Temáticos

12/10/2016 - 15:00 - 16:30
GT 41 - Gênero e Desafios para o Campo da Saúde

12100 - POR ENTRE RUAS, PEDRAS E SUJEITOS, UMA ETNOGRAFIA POR TRAJETOS CUIABANOS
SUSANA SANDIM BORGES - UFMT


Apresentação/Introdução
O consumo do crack é um objeto de estudo de extrema relevância pela complexidade de associações, estigmas e discursos produzidos, ética de consumo, estética da existência, normatizações, produção de corpos, agenciamentos e subjetividades envolvidas. O assunto não se encerra, ao contrário, a cada problematização novas questões surgem dentro de uma pluralidade de relações. Pensar no assunto de maneira múltipla possibilita romper com alguns discursos hegemônicos, tais como “substância do mal”, sujeitos capazes de tudo para conseguir a “pedra”, “seres desumanos”, culpabilização do consumo como responsável pelo aumento da violência, além de dar voz para outros saberes. Sem o objetivo de trazer mais do mesmo, é necessário não olhar para o crack da mesma maneira, como se ele reproduzisse sempre as mesmas questões. Olhares diferentes, alteram as interpretações e, consequentemente, possibilita diálogos com as reflexões observadas. Transformar conhecimentos é essencial para lidar com o fenômeno do Crack. Encontros urbanos com sujeitos que estão à margem, provocam uma discussão ética e a pesquisa toda é permeada por inquietações éticas.


Objetivos
Esta pesquisa trata de conexões e produções de saberes, referentes as relações sociais em torno do consumo do crack, vividas, construídas, comparadas, compreendidas e descritas caminhando por alguns trajetos cuiabanos. Eu não tinha uma hipótese para provar e nem um objeto a ser estudado. Eu tinha interesse num assunto (fenômeno do Crack) por causa de experiências pessoais e profissionais que serviram para comparação ao final da pesquisa. Demonstrar empiricamente o movimento de sujeitos colaboradores é uma tentativa de fornecer uma breve compreensão das várias formas de refletir sobre o assunto.


Metodologia
O Crack incomoda e nos obriga, não a uma reflexão, mas a várias. É necessário por em evidência o que o consumo do crack amplamente divulgado não diz e, nesse sentido, são novos horizontes apresentados para os interessados no assunto. Busquei na pesquisa qualitativa, no método etnográfico a sustentação da pesquisa. O método foi importante, não para provar hipóteses, mas para desestabilizar verdades difundidas. Fui só à campo, porém não estava só, tinham os interlocutores participantes da pesquisa. Estar no campo é um constante aprender. Nesse processo de aprendizagem, “perder-me” em Cuiabá-MT foi um exercício de alteridade, além de possibilitar conhecer outras relações, para além das minhas experiências. A cidade tem contrastes tão brutais que a “insignificância humana” é percebida por um dos interlocutores que questiona e sugeri o que é importante na pesquisa sobre o crack. E, aceitando os pontos de vistas dos sujeitos da pesquisa, fui me adequando à pesquisa.


Discussão e Resultados
A reflexão sobre os aspectos éticos é essencial para pesquisas científicas, pois necessita considerar os direitos humanos, além de colocar a alteridade em evidência. As descrições de sujeitos em cenas corriqueiras podem fornecer informações prejudiciais. Adentrar nesse tipo de pesquisa gera uma série de inquietações. Todos os nomes usados para identificar sujeitos que participaram dos encontros urbanos, são fictícios. Em nenhum momento solicitei termos de consentimentos. Aliás, imaginar uma solicitação de termos de consentimento em determinados lugares, chega a ser constrangedor, assim como perguntar nomes, pedir endereço ou nome da mãe, por exemplo. Aprendi isso em campo. O consentimento adquirido foi sendo construído entre eu e eles. Relações nem sempre harmoniosas, porém precisei me adequar. Não é um campo orientado por um chek list e tive, em certos momentos, dificuldades de me sustentar no campo. Fui até aonde me permitiram ir e até aonde eu consegui ir. Em campo, resignifiquei saberes para pensar o consumo do crack.


Conclusões/Considerações Finais
Observei, ouvi, senti e tentei reproduzir, através da escrita, conhecimentos que contribuam para novos olhares, novos debates, novos saberes, novos interesses, novos questionamentos e novas políticas públicas sobre o consumo de drogas, no qual o crack, faz parte. Nos encontros urbanos, encontrei sujeitos que vivem o problema do consumo do crack, mas em perspectivas diferentes da ideia de problema apresentada nos discursos hegemônicos. Perceber um corpo dentro de um contexto econômico, político e moral, mostra fronteiras pelas quais transitam direitos. O consumo é real e a discussão ética é essencial. Numa discussão ética há saberes e interesses diferentes entre pesquisadores a partir de áreas abordadas, por exemplo, saúde ou antropologia. Modular esses movimentos experimentados durante o campo é não perder a noção do sujeito enquanto ser humano que precisa ser respeitado nas suas vontades, tanto no consumo do crack, quanto na colaboração de pesquisas.


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