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Grupos Temáticos

11/10/2016 - 15:00 - 16:30
GT 27 - Diversidade de Significados na Diversidade das Culturas

12119 - CORPO E SIGNIFICADOS DO EXCESSO E PESO E DA OBESIDADE EM MULHERES DE CAMADAS POPULARES NO RIO DE JANEIRO
TATIANA COURA OLIVEIRA - UFV, DINA CZERESNIA - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, ELIANE PORTES VARGAS - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, DENISE CAVALCANTE DE BARROS - FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ


Apresentação/Introdução
A obesidade se configura como uma pandemia contemporânea que atravessa as sociedades em termos globais. Há uma predominância em se tratar o tema a partir de uma perspectiva biológica, individual e quantitativa. No entanto, vários aspectos muitas vezes não contemplados de modo integrado na análise do tema se impõem além destes âmbitos uma vez que refletem instâncias da vida individual, cultural, social, econômica e de mercado. Âmbitos nos quais se realiza o cotidiano das pessoas, onde é possível perceber o alcance das regras sociais e ações de saúde, sobretudo de caráter preventivo. Cabe considerar que as condições que conduzem ao crescimento do excesso de peso e da obesidade como problema de saúde global, também se realizam em meio a uma crescente valorização da magreza como padrão, tanto estético como de saúde. O corpo magro, concebido socialmente como normal e um ideal a ser alcançado, confronta-se com o excesso de peso corporal impondo-se como realidade mais frequente. O acirramento dessa contradição entre as acepções do termo normal incita o agravamento de tensões fomentando insatisfação corporal e processos de estigmatização em diferentes níveis.


Objetivos
Partindo-se do pressuposto de que os grupos sociais estão desigualmente situados em relação à coerções de natureza econômica, cultural e social que configuram relações diferenciadas de acesso aos serviços e produção de bens relativos aos consumo de alimentos, o objetivo do estudo foi compreender as concepções e as práticas alimentares acerca excesso de peso e da obesidade entre mulheres moradoras em um conjunto de comunidades no Rio de Janeiro.


Metodologia
Trata-se de um estudo de natureza qualitativa com perspectiva sociocultural de abordagem compreensiva. O grupo do estudo foi composto por mulheres classificadas com excesso de peso e obesidade, usuárias do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF), situado em Maguinhos - Rio de Janeiro. Segundo o sistema de classificação sugerido pela WHO (1995), considerou-se obesidade naquelas onde o Índice de Massa Corporal foi maior ou igual a 30 kg/m2 e sobrepeso naquelas com IMC compreendido entre 25 e 29,9 kg/m2. Foram realizadas vinte e uma entrevistas entre setembro e novembro de 2015, adotando-se o princípio da saturação das questões abordadas na composição do estudo. .Houve aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa da ENSP/Fiocruz, sob o parecer de número 1.094.154.


Discussão e Resultados
As questões que atravessam o discurso das mulheres entrevistadas chamam a atenção para a abrangência do acesso à informação sobre alimentação saudável e de como essas informações não se viabilizam em suas vidas. Elas buscam realizar dietas e se referem a uma dificuldade em seguir padrões alimentares prescritos em dissociação com seus desejos e condições concretas de existência. As mulheres com excesso de peso e obesidade, na maior parte dos casos, têm uma relação conflitiva com o problema: esse sofrimento se soma ao que está associado ao reconhecimento do estigma relacionado ao peso. Aspectos da singularidade individual assinalam diferenças nas formas de lidar e driblar ou não constrangimentos de natureza econômica, cultural, pessoal e de acesso a produtos e serviços. Aquelas que escapam a determinadas lógicas de comportamento legitimadas socialmente são consideradas negativamente. Ressalta-se a necessidade de se debater as conexões entre cultura e obesidade, bem como o modo pelo qual o conceito de risco, em sua configuração predominante, reproduz maneiras de se conceber questões de saúde, tal qual a obesidade, sob a égide da gestão individual gerando estigmatização e culpa.


Conclusões/Considerações Finais
Dificuldades na efetivação de mudanças nas práticas alimentares presentes nas narrativas das mulheres evidenciam os limites das ações de promoção da saúde que não estabelecem conexões com a realidade social. Ao ressaltarem a responsabilidade individual na gestão de hábitos e comportamentos, os discursos amparados no conceito de risco, além de pouco eficazes colaboram para perpetuação do excesso de peso, enquanto problema de saúde pública contemporâneo, em grande medida estigmatizante. Cabe considerar neste contexto de práticas discursivas a centralidade do indivíduo como um sujeito de escolhas na sociedade contemporânea na aquisição de bens, dentre eles os alimentos, mediante ofertas diversificadas de produtos e informações, ainda que direcionadas. Nas abordagens, se a redução é um procedimento incontornável ao método cientifico analítico dos estudos de risco, parece necessário integrá-los estabelecendo-se conexões que produzam compreensões mais abrangentes sobre o tema.


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