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Grupos Temáticos

12/10/2016 - 15:00 - 16:30
GT 16 - Corpo, Cuidado em Saúde, Identidades e os Marcadores da Diferença

12014 - CONFIGURAÇÕES DAS RELAÇÕES DE GÊNERO NA VELHICE QUE VIVENCIA A DOR NO CAMPO DAS PRÁTICAS DE SAÚDE COLETIVA
ALINE CONSOLAÇÃO DA SILVA - CENTRO DE PESQUISAS RENÉ RACHOU/FIOCRUZ, WAGNER JORGE DOS SANTOS - CENTRO DE PESQUISAS RENÉ RACHOU/FIOCRUZ, JOSÉLIA OLIVEIRA ARAÚJO FIRMO - CENTRO DE PESQUISAS RENÉ RACHOU/FIOCRUZ


Apresentação/Introdução
Gênero é um elemento constitutivo de relações sociais fundamentado nas diferenças percebidas entre os sexos, assim como uma forma primordial de dar significado às relações de poder. O gênero seria, assim, uma categoria que, qualquer que venha a ser seu preenchimento numa cultura particular, fala de relações de oposição e constitui a forma elementar da alteridade. Relações de Gênero constitui numa categoria analítica que fornece um meio de decodificar o significado das relações historicamente construídas numa cultura local e de compreender as complexas conexões entre as várias formas de interação humana. Embora gênero seja centrado na família como base da organização social, mas não exclusivamente, é possibilidade no cotidiano das práticas do campo da saúde coletiva. Assim, a vivência da dor é reconhecida como realidade das práticas em saúde coletiva, concebendo-se através da experiência álgica a oportunidade de construção de relações e de encontros profissional/usuário que considera as configurações de gênero possíveis em seu cotidiano, produzindo a qualificação das tecnologias das relações de cuidado e a valorização da integralidade da experiência e da história da pessoa idosa.


Objetivos
O estudo sobre relações de gênero se faz necessário, visto que existem várias mudanças em nosso contexto atual, que interfere nos papéis sociais e interação dos idosos, que são: mudanças na estrutura etária da população, no aspecto socioeconômico e nos papéis sociais definidos por gêneros. O presente estudo objetiva compreender o gênero como uma forma primária de configurar e dar significado às relações de poder na gestão cotidiana do cuidado a vivência álgica nas práticas de saúde coletiva.


Metodologia
O presente estudo, desenvolvido na perspectiva da abordagem qualitativa, de cunho antropológico, está fundamentado nos pressupostos da etnografia, sendo conduzido na cidade de Bambuí, localizada a oeste de Minas Gerais. O modelo dos Signos, Significados e Ações foi utilizado na coleta e análise dos dados, permitindo a sistematização dos elementos do contexto que participam da construção de maneiras típicas de pensar e agir associado à vivência da dor dos idosos pesquisados. A técnica de pesquisa, entrevista individual com roteiro semiestruturado, permitiu a ampliação do campo de fala dos idosos. Somente foram entrevistados idosos sem alterações cognitivas que impedissem a realização das entrevistas. O universo pesquisado foi composto por 57 idosos (30 mulheres e 27 homens), sendo que os critérios de inclusão buscaram garantir a heterogeneidade dos participantes idosos quanto a: território das equipes da ESF, gênero, idade e condição funcional.


Discussão e Resultados
Uma idosa conta que “quando a gente era solteira nóis quase não saía que o pai não deixava”. Outra idosa com dor relata sua consulta: “Então o doutor disse que eu não devo ir à missa (...) eu não gosto de falar nisso não (Por que?) Porque eu fico sendo vigiada.”. “Eu não saio de casa não. À missa eu já não vou mais porque o médico mesmo fala: não vai não”. As relações de gênero impõe à idosa a ação ‘não sair de casa’ como signo na construção social e existencial de uma cultura machista rural onde o masculino pai, marido e médico cerceia a mobilidade de seu corpo para fora de casa ao longo da vida, impondo a moral do confinamento e vigilância da casa. Assim a vida repete funcionalmente na velhice a imposição de ‘não sair de casa’, reatualizando os sentidos que a marcaram como mulher e sustentaram na cultura local a sua travessia pela existência. Nessa cultura local patriarcalista as relações de gênero são transmitidas ao idoso de forma privilegiada através do saber biomédico, atribuindo significado as suas vivências, interferindo nas suas práticas de saúde. Esse sentido repete a desigualdade entre gêneros e configura o feminino na vivencia de uma dor que será sempre privada.


Conclusões/Considerações Finais
Reconhecendo a heterogeneidade da experiência do envelhecimento, as questões de gênero estão entre os sentidos que produzem formas distintas de viver e envelhecer. O sentido da vigilância masculina estabelece o regime de tutela do corpo da mulher que, condenada a interrogar o desejo dos outros para cumprir algo determinado por esses desejos, se ausenta de seu próprio corpo e silencia sua própria palavra. Na velhice a vivencia da dor caracteriza uma apropriação singular, por meio da qual o sujeito reclama a interação no campo coletivo, demarcando e provocando nos serviços de saúde ações de assistência nas relações de produção de cuidados, que possibilitem o acolhimento e a valorização das pessoas como seres humanos, em um relacionamento social. Entretanto, numa cultura hegemônica de submissão ao desejo do masculino, a vivencia da dor configurada a partir da noção das relações de gênero deve ser compreendida como uma criação própria a cada cultura.


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